Por Luis Rios
Com letras reflexivas, eles falam da vida, de política, das relações humanas e, claro, de fé. Como verdadeiros clérigos do Heavy Metal, trouxeram mais um excelente trabalho e que solidifica uma sonoridade coesa, com arranjos fartos de bons riffs e lindas harmonias vocais.
Luis Rios
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Gravadora: Frontiers Records
Data de lançamento: 4/09/2020

Gênero: Heavy Metal
País: Estados Unidos
Ao longo de mais de 30 anos de vida, os americanos de Orange County (Califórnia) vem tentando provar que mais do que uma banda de Rock Cristão, são uma banda de Metal. Atirando bíblias ao público nos shows e escrevendo letras carregadas de mensagens religiosas, os irmãos Sweet e seus amigos, Oz Fox e Timothy Gaines foram arrebatando discípulos e mostrando suas convicções através de uma música com guitarras distorcidas, vocalizações poderosas e um peso que sempre emergiu das entranhas de suas almas. Se realmente pararmos para pensar, só porque bandas se utilizam de temáticas como “Ocultismo” ou “Horror”, não podemos dizer que são bandas satanistas. Um exemplo crasso é o Slayer. Alguns de seus membros são católicos, mas a banda versa sobre temas satanistas. Então, rotular é sempre complicado e prefiro dizer que tal banda é uma banda de Heavy Metal ou Hard Rock e não complicar a cabeça de ninguém.
Visivelmente, o que o Stryper conseguiu, desde seu mini álbum de 6 faixas, The Yellow & Black Attack (1984), e o debut de Soldiers Under Command (1985), foi uma grande reputação. Músicos muito energéticos no palco, fazendo apresentações empolgantes, além de passarem sempre uma mensagem positiva nas letras e incentivando o amor entre as pessoas. Usaram e abusaram do Rock and Roll para a doutrinação de todos que os ouviam “pregar”! Na década de 1980, faziam um som típico daquela época, uma mescla de Van Halen e Def Leppard. Um Rock Melódico pronto para conquistar fãs pela emoção e energia, e um Hard Rock rico em baladas, com guitarras gêmeas, riffs sensacionais, ótimas melodias e canções radiofônicas. Com isso, obtiveram grande sucesso, atingindo um recorde: a primeira banda a colocar duas canções no Top 10 da MTV americana (Free e Honestly). Tiveram também um álbum multi platinado, o enigmático e estonteante To Hell With The Devil (1986).
Os anos se passaram e em 1992 a banda deu um tempo, depois do malfadado e maldito Against The Law (1990). Era a época que as “Hair Metal bands” (termo que não gosto) estavam em baixa. Em 2005, aconteceu uma nova reunião da banda que possibilitou um reinício promissor, com uma nova proposta sonora, trazendo mais peso e uma atitude ainda mais visceral, com as temáticas religiosas se expandindo e amadurecendo. O Stryper reencarnou e recuperou rapidamente popularidade, realizando álbuns muito consistentes. Chegamos em 2020 e Even The Devil Believes desce dos céus em meio a pandemia que assola o mundo. Apresentado como um passo a frente de God Damn Evil (2018), ele mostra sim uma energia que pode refletir o trabalho de uma banda que lutava contra as sombras enquanto compunha e gravava – como todos nós estamos ainda lutando…

Com letras reflexivas, eles falam da vida, de política, das relações humanas e, claro, de fé. Como verdadeiros clérigos do Heavy Metal, trouxeram mais um excelente trabalho e que solidifica uma sonoridade coesa, com arranjos fartos de bons riffs e lindas harmonias vocais. Também se identifica o trabalho das guitarras dobradas e uma aceleração com peso, que faz parte da reconstrução da sonoridade do Stryper. Pós volta em 2005, eles vem nos edificando com os seguintes Versículos Sonoros: o ótimo e surpreendente Reborn, seguido de Murder By Pride (2009), No More Hell To Pay (2013), o excepcional Fallen (2015) – esse tem um cover de After Forever do Black Sabbath de arrepiar os descrentes- e do muito bom, já mencionado e de titulo polêmico, God Damn
Evil (2018).
Michael Sweet (Guitarra e Vocal), seu irmão Robert Sweet (Bateria), Oz Fox (Guitarra) e o novo baixista, Perry Richardson (ex-Firehouse), que substitui Timothy Gaines (um dos fundadores da banda), trazem uma mensagem de esperança e paz nas letras. Eles próprios consideram ser o melhor trabalho da banda até hoje. “Tem uma energia diferente de qualquer outro álbum que já fizemos”. “Nós até puxamos uma música do passado, que nunca foi ouvida ou lançada e, ao fazermos isso, trouxemos de volta um pouco de 1989 à mixagem”, diz Michael. Sendo sincero e tendo como base várias audições do álbum, posso dizer que os fãs vão gostar, pois representa bem o que é a banda. Apesar disso, não creio ser o melhor que já tenha sido feito. Seu antecessor, penso ser mais inspirado; Fallen mais melodioso e forte; e Reborn o mais pesado e surpreendente! Mas todos temos as nossas preferências e isso é o mais divertido. Quando você ouvir o álbum desde a 1°faixa, ficará envolto na aura criativa e músicas bem feitas e produzidas. A capa segue a linha das últimas e preenche bem um cenário que se completa na audição. E, embora tenhamos visto o Stryper manter a fórmula que dá certo, isso não reflete num disco repetitivo.
O que se ouve é um álbum levemente mais trabalhado e menos agressivo que o anterior. God Damn Evil é mais pesado e raivoso, inclusive nas letras. O novo álbum me parece ser mais parecido, em estrutura de “riffs” e melodia, com o passado da banda. Não posso dizer se isso é bom ou ruim, porque gosto de todas as épocas, mas é fato que isso pode parecer, para alguns fãs, um retrocesso. Ao meu ver, significa criatividade e uma mistura de textura sonora que me caiu muito bem, e acho realmente que as composições da banda evoluiram de um passado mais distante e vem melhorando mais ainda se compararmos com álbuns mais recentes. Sei que você tem seu predileto e agora com este novo trabalho, é hora de avaliar e comparar novamente. Música por música, temos composições muito poderosas, uma balada que é marca da banda e muitas, muitas guitarras.
Blood From Above vem de primeira injetando e literalmente banhando de sangue a alma de quem curte o som da banda. Make Love Great Again tem introdução cadenciada e um riff poderoso de entrada, já emendando um solo. Clima grandioso. Let Him In acelera novamente com as guitarras dobrando e variando em harmonias incríveis. Do Unto Others é puro riff de guitarra com vocal mais agudo constrastando e mudança de andamento com refrão melódico – uma das mais inspiradas! Even The Devil Believes é aquele “Hardão” clássico com vocal em notas agudas crescentes, e o refrão tem um ritmo quebrado pela batera. Lindas guitarras. E a coisa vai melhorando… How To Fly entra com melodia cadenciada pelas guitarras. A batera vem potente e com viradas rufadas e com peso… ótima canção. Divider é uma musica mais pesada e acelerada com vocal agressivo e com backing vocal da mesma forma rasgados e atrevidos. Michael Sweet solta os agudos e drives com vontade. Como canta!
This I Pray é aquela balada de respeito com violão na introdução, solo de guitarra entremeado e lembrando o estilo Bon Jovi de qualidade. Invitation Only é outro “Hardão” mais acelerado com uma linha de baixo interessantíssima! Aliás, o novato é puro entrosamento com Robert Sweet e os dois fazem ótima dobradinha na sessão rítmica. Aparecem alguns sintetizadores bem de leve e nessa faixa ele está mais presente na base. For God & Rock And Roll é uma música incrível, te leva lá na década de 1980. O vocal é muito dessa fase, mas, com o crescente da música, vem momentos modernos com a pegada que a banda tem atualmente. Na verdade, essa sensação me ocorre ao longo de vários momentos no disco, mas essa é a mais presente nesse sentido -e tem um solo de guitarra fantástico! Middle Finger Messiah: Essa última canção não me parece algo muito inspirado. Acelerada, mas sem novidades.
O álbum termina e podemos perceber o grande momento que a banda atravessa. Even The Devil Believes marca inexoravelmente uma fase que não dá mostras de que será interrompida tão cedo! Acho ainda que esse disco não estabelece nenhuma mudança significativa na banda, mas mostra com clareza que eles tem muitos capítulos bíblicos ainda a escrever na sua via sacra metaleira. O som da banda continua agradável, único e divinamente empolgante.
Nota final: 8/10
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