Review: Deep Purple – Woosh!

Por Luis Rios

Se formos comparar Whoosh! com os álbuns anteriores, o gosto pessoal sempre vai imperar. Eles tem os mesmos ingredientes, mas cada qual com um toque de inspiração distinto. Infinity (2017) é, talvez, mais Classic Rock, enquanto o anterior a esse, Now What?! (2013), pode ser um pouco menos inspirado, a meu ver.

Luis Rios

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Gravadora: earMUSIC
Data de lançamento: 07/08/2020

Gênero: Deep Purple (?)
País: Inglaterra

Esta banda tem mais de 50 anos de vida! Desde 2002 apresenta a formação atual. Don Airey, nos teclados, foi o último a ingressar por conta da aposentadoria de Jon Lord. O tecladista original veio a falecer em 2012.
Whoosh! é o 5°disco desta formação, que se fez para a gravação de Bananas (2003), e é o 21°álbum da carreira!

Bob Erzin produziu, bem como os dois anteriores. Um produtor que busca extrair ao máximo o que cada músico tem pra dar, justamente o que o DP procurava para este trabalho. Ir fundo foi a palavra de ordem. Acho que a simbiose do trabalho do produtor com a intenção verdadeira dos músicos, fez nascer um grande registro, com canções bem originais e que soam diferentes dos álbuns anteriores. As músicas são tocadas sem mostrar muito refinamento de arranjos. Se isso soou para o leitor como uma crítica, foi ao contrário. Um acerto e tanto!

Ouvindo, me parece que os veteranos se juntaram para gravar um disco e o fizeram ao vivo, descontraidamente e adicionando todo talento e capacidade de cada um, de forma natural. O resultado é novamente um disco com o “groove” tradicional do DP, mas trazendo o Hard Rock
que popularizou a banda como uma das que surgiram no início dos anos de 1970, juntamente com o Led Zeppelin e o Black Sabbath, formando a tríade do Hard Rock inglês. E, obviamente, cada uma dessas bandas trilhou diferentes caminhos na sequência de suas carreiras, mas todas elas sem abandonar a essência que as formou.

Foi incluída neste álbum a regravação de uma música que abre o 1°disco, Shades of Deep Purple, e que se chama And the Address. Isto mostra que o DNA tradicional continua atuante na carreira desta entidade do Rock and Roll. E ficou sensacional! Uma faixa instrumental que, por curiosidade, tem participação somente de Ian Paice tanto na gravação de 1968 quanto na atual. Whoosh! tem 13 músicas. Os arranjos de teclado de Don Airey mais uma vez são maravilhosos e se destacam, talvez como uma reverência ao eterno dono do posto (Jon Lord é inesquecível). E ele se superou. É um exímio tecladista e muito subestimado.

Ian Paice aparece como um marcador implacável de ritmos, rufadas e viradas precisas (desde 1968). As atmosferas de órgãos e guitarras (o Steve Morse de sempre), são esplendorosas e marcam momentos mais descontraídos e também interlúdios mais sinistros e até surpreendentes. Morse e Airey solam constante e lindamente ao longo das músicas (um dia foram Blackmore e Lord). Roger Glover não apresenta muito destaque individual, mas auxilia Paice para que este brilhe. Por fim, Ian Gillan usando o que a sua voz pode proporcionar, com vocalizações simples, divertidas e às vezes até soturnas, finalizando o trabalho em conjunto da
banda com a maestria que um músico de sua envergadura é capaz.

Se formos comparar Whoosh! com os álbuns anteriores, o gosto pessoal sempre vai imperar. Eles tem os mesmos ingredientes, mas cada qual com um toque de inspiração distinto. Infinity (2017) é, talvez, mais Classic Rock, enquanto o anterior a esse, Now What?! (2013), pode ser um pouco menos inspirado, a meu ver. Já Whoosh! pode parecer menos trabalhado e despreocupado para alguns. Eu gostei de primeira. Tem o Rapture of the Deep que para mim é ótimo, mas a crítica de modo geral não gostou… Apesar disso tudo, as características da música do DP estão representadas e isto é feito de forma autêntica e honesta por esses caras que não precisam provar mais nada e ainda assim mostram “lenha pra queimar”.

Os últimos 5 álbuns são todos interessantes e diferentes entre si. Falando especificamente sobre as composições, não consegui encontrar música ruim no disco, e as letras são sobre o comportamento da humanidade, de como nós tratamos o meio ambiente e tem uma impressão meio que apocalíptica. Parece-me que Ian Gillan estava meio chateado e pessimista, e é ele quem fica responsável pela grande maioria das letras. Estou com ele e acho que ainda pode piorar, mas isso é outro papo… Musicalmente, temos momentos melódicos e mais atmosféricos, bem como, às vezes, o Rock and Roll surgindo no riff de guitarra ou na cadência mais rápida. Throw My Bones vem com um riff de guitarra marcante e os sintetizadores acompanham
marcando a melodia. Um belo e simples solo de guitarra dá à música alma e corpo. O “groove” de Ian e Roger já marca presença. Os teclados dão uma modernidade que se mistura ao que a banda já faz desde os primórdios. É um som perfeito pra abrir o álbum.

Drop The Weapon é indroduzida por um riff de guitarra bem Rock and Roll e o órgão também é tocado como um riff. Depois, a guitarra e o Hammond vem juntos, apoiando-se até o final. Temos também uma ótima marcação do baixo de Glover, solos sempre presentes e teclado excelente. We Are All The Same In The Dark é um Hard Rock fantástico, cadenciado, levado por Paice e os teclados, e com riffs de guitarra brilhando. Os vocais melódicos de Gillan sobressaem lindamente. Destaque para os backing vocals que preenchem a música junto com o teclado. Hardaço lindo. Nothing At All, minha faixa preferida, aparece inspiradíssima, com uma base e solos de teclados (Moog e Hammond) que já considero históricos, seguidos de um duelo entre Morse e Airey. Simplesmente inacreditável o riff de guitarra dessa música! Uma das melhores do Purple dos ultimos 15 anos!!! E há momentos em que Ian Pace parece retomar sua inspiração nas
levadas e quebradas de 40 anos atrás.

Em No Need To Shout, temos uma nuance bem setentista e Gillan soltando a voz no “groove” da melodia. E o Hammond solto! Step By Step é apocalíptica e com um solo de guitarra e “cama” de teclados inspiradíssima.
What The What é um rock com levada no piano e vocal muito harmônicos, e o solo de guitarra é bem Rock and Roll. The Long Way Round é uma aula de frases e riff de guitarra, com o teclado sempre por trás
apoiando. Rockaço! The Power Of The Moon é lúgubre, cadenciada e misteriosa, com um solo de guitarra e Hammond lindíssimos. E Paice quebra e rufa o tempo todo. Emocionante! Uma música surpreendente,
lembrando a fase inicial da banda, com um toque até progressivo dos três primeiros trabalhos antes de In Rock (1970). É a segunda melhor do álbum, no meu conceito. Remission Possible é uma instrumental de 1’38” que me impressionou pela aceleração e interação entre sintetizador e guitarra. Arrasadora!

Man Alive fala da natureza e sobre um possível apocalipse. Ótima composição! Climática, pesada! And The Address é a regravação de 1968 e ficou bem moderna, dinâmica, mais animada, sem perder a “Essência Púrpura” da década de 60. Dancing In My Sleep fecha o álbum com frescor e modernidade na apresentação dos teclados, riff de guitarra e um solo de Morse “suingando” com a levada de Paice e Glover (que é fundamental na cozinha, tal a fusão de ritmos do baixista com o batera icônico).

Usando da maior sinceridade possível, mesmo como grande fã da banda, tento realmente ser o mais minucioso e verdadeiro nas minhas avaliações. Tenho que usar um critério e não deixar me envolver na armadilha que um amante da banda e de seus músicos pode cair. Falo de coração. Percebo que eles tentam se manter dentro de uma zona de conforto nas composições e em tudo que envolve a produção, masterizacão do álbum e detalhes de arranjos. Mesmo assim, a qualidade deste registro é latente e tocante. O entrosamento dos músicos é evidente e impressiona. Whoosh! é um disco excelente! E, segundo revelação da banda, não será o último, já que, de acordo com os músicos, “o último se chamaria ‘InfiNity'”.

PS: Quando acabei de escrever essas humílimas linhas, tive a intuição de ouvir Shades Of Deep Purple (1968) e quando tocou Help (sim, dos Beatles), me veio um sentimento inexplicável! É uma versão totalmente diferente, feita por iniciantes naquela época, mas que refletiu o que aqueles sujeitos estavam desenvolvendo e o que viria a ser mais a frente o Deep Purple. Uma das maiores entidades do Rock de todos os tempos. Quando a música acabou, pude entender melhor minhas linhas e o que é o DP hoje, após 52 anos. Genuflexo, agradeci aos deuses do Rock pela oportunidade.

Nota final: 9/10

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