Barão Vermelho reverbera “Viva” no Circo Voador

Por Roani Rock

O bom filho a casa torna. Com nova roupagem mas sempre na proposta de divertir o público com bastante Rock ‘and’ Roll. Foi assim desde as primeiras apresentações na década de oitenta, um show do Barão Vermelho no Circo Voador, como a história mostra, se tornou uma ida obrigatória para termos de turismo cultural da cidade do Rio de Janeiro.

O Barão é a banda de rock carioca que ganhou maior reconhecimento e maior aceitação em todas as suas versões. Seja com o Cazuza, quando estavam no embrião pelo Circo Voador até “nascerem” nacionalmente no Rock In Rio de 85. Com Frejat de frontman fazendo o “rock rolar e ir direto“, passando por duas décadas de variação de vertentes, de um extremo ao outro, seja em noventa com um som quase hard rock para os anos 2000 sobrevoar sobre o pop. Com Suricato a passos largos de seguir a tendência pop, há ainda a possibilidade de explorar o folk rock e algo mais alternativo.

foto/divulgação: Roani Rock

Nas palavras do baterista Guto Goffi na música O Nosso Mundo – que não estava no repertório -, acho que vem a calhar colocar aqui um trecho para cravar o momento atual da banda: “Pra voltar pra ontem, sem temer o futuro e olhar pra hoje cheio de orgulho”. Em 2017 teve a entra de Rodrigo Suricato, um guitar hero que conquistou muitos de cara e outros com o passar do tempo. Os primeiros shows com o novo vocalista e guitarrista focaram em revisitar lados b do Barão e nos hits fazendo esse link com o passado nesse voo para que em 2018 começassem a trabalhar no futuro, um disco de inéditas chamado Viva, lançado em agosto de 2019, que virou motivo de orgulho.

Falando sobre o show, logo de cara o público é surpreendido. Não pelas músicas arrasadoras que animaram a todos, mas sim pela presença de uma mulher no canto direito do palco fazendo língua de sinais. O show teve o tempo inteiro um intérprete para fazê-las, inicialmente foi uma mulher e na segunda metade do repertório entrou um cara para fazê-las. Essa convocação deu um interesse a mais para o público possibilitando a todos terem suas atenções divididas pela curiosidade de saber como que cada frase de uma canção é entendida para um surdo ou mudo, principalmente em Malandragem da um tempo do Bezerra da Silva que divertiu a galera.

Viva já tinha tido suas músicas divulgadas pelos aplicativos de streaming desde agosto e na madrugada de 28 para esse dia 29 marcou o início da vendas físicas do álbum. Desta nova pérola preciosa do rock nacional entraram no setlist 5 músicas. Por Onde eu For foi a primeira a ser tocada e funcionou bem, fazendo a rapaziada esperta dançar. Eu Nunca Estou Só e A Solidão Te Engole Vivo, simplesmente os hits instantâneos do álbum novo, funcionam muito bem “alive” assim como a faixa mais “Baronesca” que se tem dessa nova leva, Vai Ser Melhor Assim. Entretanto, a faixa Jeito é morna e não funciona tão bem ao vivo, talvez seja uma questão de costume.

foto/divulgação: Roani Rock

O show reserva seus momentos de homenagem. Com a poderosa Meus Bons Amigos a banda se auto homenageia finalizando com uma foto do Peninha, percussionista que esteve com a banda dos anos 80 até a sua morte em setembro de 2016. Nesta hora Suricato fala ao microfone, “Um viva ao Barão Vermelho em todas as suas versões!“. Na sequência Tente Outra Vez do Raul Seixas reaparece no repertório em um momento épico de celebração assim como nas homenagens ao Legião Urbana tocando Quando o Sol Nascer na Janela Do Seu Quarto e ao Cazuza em dois momentos, no primeiro mais leve em Exagerado e depois na sempre pesada e inquietante O Tempo Não Para.

Em meio ao público tinha uma presença ilustre que foi em vários momentos festejada. O poeta e letrista Mauro Santa Cecília, responsável por vários dos sucessos do Barão como na brilhante balada Por Você e em Amor pra recomeçar da carreira solo do Frejat. Esta foi composta em parceria com Maurício Barros também, o tecladista do Barão Vermelho, o que possibilita da banda tocar a faixa sem soar como um cover.

Os momentos mágicos do show ficaram a cargo do que já é esperado, os grandes hits do Barão de todas as suas fases, mas principalmente daquelas dos álbuns com Cazuza. Bete Balanço, Por Que A Gente É Assim?, Maior Abandonado do disco de 1984. Ponto Fraco do primeirão, a menção a Todo Amor Que Houver Nessa Vida cantada a capella por Suricato e Eu Queria Ter Uma Bomba. Teve espaço para dançar com Puro Êxtase, Cuidado e Pense e Dance já da fase Frejat. Tempo para se emocionar sobrou também, principalmente com os solos de Fernando Magalhães na balada O Poeta Está Vivo. A grand finale oficial, Pro Dia Nascer Feliz não poderia faltar e encerrou o show deixando a todos com gostinho de quero mais.

O show é empolgante e por trazer uma enxurrada de canções conhecidas e populares satisfaz a todos. O Barão com o disco Viva se tornou mais pop/rock e os shows tendem a seguir esse caminho, o que não é ruim. Mas isso inviabiliza certas canções de aparecerem com frequência nos futuros sets como é o caso de Down In Mim, Declare Guerra, Pedra, Flor e Espinho, Bilhetinho Azul, Menina Mimada, Vem Comigo, Carne de Pescoço, Baby Suporte, Posando de Star, Billy Negão e outras lado b dos primeiros álbuns que são mais blueseiras e rocks. O que para um fã de longa data vai fazer falta.

Deixe uma resposta