11 Músicas que Retratam Antecedentes e a Queda do Muro de Berlin

Por Roani Rock

Hoje são completados 30 anos em que o Muro de Berlin caiu. Mediante a uma data tão simbólica trazemos essa seleta lista com músicas de suma importância que retratam um claro protesto a essa divisão que durou o tempo de 1961 até o ano de 1989.

A queda do muro foi tratada como uma revolução pacífica, a data acumula três momentos cruciais na história da Alemanha (Proclamação da República (1918), “Noite dos Cristais” (1933) e a Derrubada do Muro (1989)) e por mais que muitas dessas músicas presentes aqui de antes do fato histórico não tenham tido a função de ser a responsável por mover a população a quebrar o muro, transmitiam a insatisfação e as canções que foram compostas pós queda fazem o festejo a caráter.

Vamos a lista:


Lou Reed – Berlim (1973)

Lou Reed nunca morou em Berlim, diferentemente de seus amigos Bowie e Iggy Pop. Mas isso não o impediu de inspirar-se na cidade para seu álbum no estilo Kurt Weill chamado não por acaso de “Berlin“, de 1973.

O álbum não tem ligação com o muro e muito menos se trata de um álbum politizado. Berlim é uma ópera rock trágica que fala sobre um casal condenado chamado Jim e Caroline, e aborda temas varias questões da vida deles como o uso de drogas , prostituição , depressão , violência doméstica e suicídio.

O conceito do disco foi criado quando o produtor Bob Ezrin mencionou a Lou Reed que, embora as histórias contadas pelas músicas de Reed tenham tido um grande começo – elas nunca tiveram realmente um final. Especificamente, Ezrin queria saber o que aconteceu com o casal de “Berlin” – uma música do primeiro álbum solo de Reed .

Uma canção chamada “The Kids” fala de Caroline tendo seus filhos tirados pelas autoridades e apresenta os sons das crianças chorando por sua mãe. A banda de rock folk escocesa The Waterboys leva o nome de uma linha nesta música.

A letra da faixa que leva o mesmo nome do álbum evocou perfeitamente o espírito da época de uma geração:

“In Berlin, by the Wall / You were five feet, ten inches tall / It was very nice / candlelight and Dubonnet on ice”.


Sex Pistols – Holidays in the Sun (1977)

Para seu único e primeiro álbum, os Sex Pistols criticaram questões sociais não só dentro da terra da rainha, mas de outros lugares como Berlin que estava perto de completar 10 anos de divisão.

A música fala basicamente sobre inquietação e o quanto o muro trazia certo desgosto e descontentamento geral. A existência daquilo impossibilitava a banda de chegar a um outro lado de maneira mais rápida.


David Bowie – Heroes (1977)

No mesmo ano do lançamento do álbum Never Mind the Bollocks Here’s the Sex Pistols, David Bowie vinha com um terceiro álbum dentre os feitos na Alemanha em parceria com Brian Eno, produtor e músico do Roxy Music.

Foram feitos no período entre 1977 e 1979 o que ficou conhecido como a trilogia de Berlin.Os álbuns LowHeroes Lodger. Todos gravados na época em que Bowie morava na cidade de Berlim, Alemanha.

Eles ficaram conhecidos como a Trilogia de Berlim, pois Bowie vivia na Berlim Ocidental na época de sua criação, – pelo menos, parte deles foi gravado lá – e eles foram influenciados pela nova música da Alemanha que foi popular na época, mais notavelmente, com o som dos pioneiros da pop electrónica, o Kraftwerk. Os álbuns são experimentais e os dois primeiros na classificação particular estão entre os mais conceituais no catálogo de Bowie.

Bowie também lançou um single chamado “Where are we now?” que é deveras importante ao refletir a cidade de Berlin como um senhor idoso. Um passeio nostálgico pela cidade que ele chamou de casa: “A man lost in time near KaDeWe“.

O álbum e música a qual vamos focar se chama Heroes e traz palavras de esperança e poderosas em uma de suas estrofes:

“Eu, eu posso me relembrar (eu me lembro)
De estar em pé, junto ao muro (ao muro)
E das armas, atirando sobre nossas cabeças (sobre nossas cabeças)
E nós nos beijamos, como se nada pudesse desmoronar (nada pudesse desmoronar)
E a vergonha, estava do outro lado
Oh, nós podemos vencê-los, para todo o sempre
E então podemos ser heróis, apenas por um dia”


Iggy Pop – The Passenger (1977)

A música possui uma parceria com Bowie que residia por lá na época também, ele gravou o piano, órgão e fez vocais de apoio. “The Passenger” fala sobre como é ver o mundo passando da janela de um metrô de Berlim e se tornou um hino da contracultura.

Ela foi gravado no legendário Hansa Studios, próximo ao Muro, enquanto Iggy Pop estava no exílio autoimposto na cidade dividida, a música do álbum “Lust for Life” (1977) impulsionou o ex-vocalista dos Stooges ao sucesso comercial.

A letra, supostamente escritas quando Pop estava no S-Bahn-Berlin, foram interpretadas incorporando o espírito nômade do punk proscrito. O guitarrista Ricky Gardiner compôs a música. É baseada num poema de Jim Morrison.


Pink Floyd – Another Brick in the Wall (1979)

O álbum ópera Rock do Pink Floyd intitulado The Wall, não por acaso, fala indiretamente sobre a Alemanha e o desejo de liberdade contra repressões. A faixa Another Brick In The Wall, que tem três partes, é uma clara oposição a existência de muros, seja como o de Berlin ou ideológicos.

Roger Waters idealizou o álbum por conta de uma turnê onde ele não conseguia mais ter uma ligação com o público do Pink Floyd, onde parecia que estava sendo construído pouco a pouco um muro entre ele e a platéia. Este foi o click perfeito.

The Wall é uma ópera rock centrada em Pink, um personagem fictício baseado em Waters. As experiências de vida de Pink começam com a perda de seu pai durante a Segunda Guerra Mundial, e continuam com a ridicularização e o abuso de seus professores, com sua mãe superprotetora e, finalmente, com o fim de seu casamento. Tudo isso contribui para uma autoimposta isolação da sociedade, representada por uma parede metafórica.

Não há uma referência direta, Waters nem chegou a ir para a Alemanha durante as gravações nos anos 70. Entretanto, anos depois, mais propriamente em 2014, o baixista traz um documentário sobre a turnê feita entre 2010 e 2013 em que tocou o álbum em carreira solo. Durante o filme o próprio Waters embarca em uma jornada pessoal ao visitar os túmulos do pai e avô, cada um morto em uma Grande Guerra Mundial.


Peter Schilling – City of Night (1985)

Primeiro cantor alemão a figurar nossa lista, através dessa música Peter Schilling conseguiu tratar de maneira precisa o descontentamento geral tendo aval para falar.

Major Tom (Völlig losgelöst)” certamente é seu maior sucesso, baseado em um personagem criado por David Bowie nos idos anos 60. Ainda no álbum que contêm a música sobre Berlin e Major Tom, há The Different Story (World of Lust and Crime) mostrando a preocupação do cantor em trazer um discurso político e ao mesmo tempo refletindo como era ser alemão na década de oitenta, quando estava no ápice do suportável estar numa sociedade dividida por viéis ideológico de anos passados.


Ketil Stokkan – Brandenburger Tor (1990)

Originalmente cantada em norueguês no Festival Eurovisão da Canção, a música “Brandenburger Tor ” (A Porta de Brandeburgo) pretendeu ser um chamado de atenção para a queda do muro e para o impacto positivo que isso teve na sociedade alemã.

A música é inspirada no colapso do Muro de Berlim, com Stokkan cantando sobre o espanto que muitos europeus sentiram quando o Muro desabou, e também na reunificação de Berlim, com o Portão de Brandenburgo, que não representa mais a fronteira entre o Ocidente e o Oriente. Alemanha. Como convém ao tema lírico triunfante, a música é tocada em ritmo acelerado.


Leonard Cohen – First We Take Manhattan (1988)

Essa foi composta e lançada um ano antes do muro ser derrubado. Essa tem uns percalços interessantes, Leonard Cohen um canadense e judeu, sempre teve problemas com Berlim. Mas, como compositor, ele se sentiu atraído pela história explosiva da cidade no século 20. Toda via, o título de sua canção faz referência a uma cidade americana.

Ele criou este clássico cult chamado “First we take Manhattan“, de 1987, Cohen faz referências diretas à cidade e canta: “First we take Manhattan…then we take Berlin“. A poderosa crítica à hegemonia global estimulou inúmeras versões cover. Engraçado como a música parece ter influência do KrautRock.


Scorpions – Wind of Change (1991)

Esse hino atemporal foi escrito por Klaus Meine, vocalista da banda de hard rock alemã Scorpions. Klaus Meine inspirou-se nos “ventos de mudança” que atingiam a Europa, com a Guerra Fria terminando, o fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlim.

A letra celebra a glasnost na União Soviética , o fim da Guerra Fria , e fala de esperança em um momento em que condições tensas surgiram devido à queda dos governos administrados pelos comunistas entre os países do bloco oriental a partir de 1989.

Porém, não há como negar que os eventos da noite de 09 de novembro de 1989 em Berlim foram catalisadores e inspiradores para a queda dos regimes socialistas e da própria URSS em 1991. Como todas essas questões chegaram ao mesmo tempo, a queda do muro alemão é celebrada com os assobios desta canção.

O processo da reunificação alemã, entretanto, ainda demorou quase um ano, finalizado apenas em 03 de outubro 1990, quando houve a anexação dos cinco estados que compunham a antiga Alemanha Oriental (RDA) à Alemanha Ocidental (RFA) tornando-se novamente um único país. (MONIZ BANDEIRA, 2009, p.2004)

Nesse contexto, a banda alemã Scorpions lança no fim de 1990 o seu décimo primeiro álbum de estúdio, chamado “Crazy World” com a música “Wind of Change”, que se tornaria o maior sucesso da carreira do grupo. E a explicação para o sucesso está na mensagem extremamente positiva que a canção reflete:

Sigo o Moskva
até o parque Gorky
Ouvindo o vento da mudança


U2 – Zoo Station (1991)

Sem tanta repercussão quanto o clássico do Scorpions, em 1991, o U2 lançou uma música baseada em Berlin que tratava da procura de um recomeço após “Rattle and Hum“, um álbum que dividiu a crítica.

Bono resolveu se inspirar no tema mais quente do momento. Ao fugir para o Hansa Studios, compôs uma música que definiria uma nova e ousada época: “Zoo station”. Batizada em homenagem à estação de trem, a banda usou a metáfora para uma Berlim reunida e a nova ordem mundial, intitulando o álbum de “Zooropa”.


Pink Floyd – A Great Day For Freedom (1994)

Uma das músicas mais recentes a tirar inspiração do muro de Berlim. Interessante como a banda que fez um protesto árduo na década de 70 pode nos anos 90 agora ter o deleite de cantar algo positivo e pessimista ao mesmo tempo.

O Pink Floyd canta o impacto da queda do muro na sociedade, tecendo criticas à sua evolução, ao rumo que a sociedade tomou desde esse momento.

A música, originalmente intitulada “In Shades of Grey”(em tons de cinza em bom português), aborda as grandes esperanças após a queda do Muro de Berlim e a decepção que se seguiu. David Gilmour declarou:

Houve um maravilhoso momento de otimismo quando o Muro caiu – a libertação da Europa Oriental do lado não democrático do sistema socialista. Mas o que eles têm agora não parece muito melhor. Mais uma vez, sou bastante pessimista com tudo isso. Eu meio que desejo e vivo com esperança, mas tenho a tendência de pensar que a história se move em um ritmo muito mais lento do que pensamos. Sinto que a mudança real leva muito, muito tempo.

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