Review: Barão Vermelho – VIVA

Por Roani Rock

Pode soar confuso meus dizeres, mas o novo álbum do Barão Vermelho não está entre os melhores discos da carreira deles, todavia, não perde em nada para estes. Se o VIVA fosse o álbum de estreia de uma banda nova seria o lançamento nacional do ano por dialogar tão bem com os tempos atuais, é o disco mais importante da história do Barão

Roani Rock

Gravadora: NBV PRODUÇÕES ARTÍSTICAS LTDA
Data de Lançamento: 16/08/2019

É momento de reencontro, reinício e renovação. Foi reencontro com estúdio, renovação e reinício de banda. Já dizia o primeiro vocalista do Barão Vermelho, o poeta Cazuza, “o tempo não para!”. E como diz a faixa Tudo por Nós 2, do álbum VIVA, novo trabalho da antiga banda do Caju: “A vida é agora e não depois!”.

Pro Barão o tempo até que passou, Frejat resolveu seguir uma carreira solo sem ver a necessidade de conciliar com a banda que o fez ser quem é. Logo depois Rodrigo Santos, o até então baixista e possível escolha óbvia para assumir o posto de fronte man, também preferiu não continuar com seus parceiros de longa data para brilhar solo.

Para vir como um grande salvador, o nome que está em acensão não só pela boca do povo mas também através de diversos renomados como Lulu Santos e Erasmo Carlos, fez Guto Goffi, Maurício Barros e Fernando Magalhães prestarem atenção num grade guitarrista e cantor diferenciado, este que detêm tamanha relevância é Rodrigo Suricato.

Rodrigo se declarou fã, aceitou o convite de prontidão em 2017 e em 2018 uma turnê chamada #BarãoPraSempre foi iniciada para que os integrantes “ganhassem liga e vissem como funcionaria a nova formação no palco“, palavras de Fernando Magalhães. Com um EP tendo versões de clássicos na voz do novo cantor foi lançado e é de consenso geral, até para os fãs mais céticos, que agradou muito a nova formação.

Bem vindo ano de 2019, o Barão te presenteia com o álbum VIVA e permitiu o mundo conferir o presente no dia 16 de agosto. Como crítico musical já tenho que deixar claro que a opinião e a parcialidade que me compete deixará de lado comparações com fase Frejat e Cazuza, já que não acho válido julgar o futuro por repetir acertos do passado.

A banda não lança um trabalho autoral a 15 anos e resolveram compor as novas músicas com todos contribuindo de um ponto a outro. A primeira faixa a que o mundo teve acesso foi o hit instantâneo “A Solidão Te Engole Vivo” e ela já aponta todos os direcionamentos do álbum.

Na letra, em seus primeiros versos temos os dizeres: “Da amizade quero muito, tudo que puder sonhar, para encontrarmos juntos, direção pra caminhar por que andar tão só, não é justo”. Claramente já mostra o quanto eles estão em uma irmandade e que a faixa assim como muitas das outras tem a letra bem pessoal, mas que cabe a qualquer um tomar para sua própria vida as mensagens nela registrada.

Todas as faixas tem a abordagem do viver, aproveitar tudo e a busca pelo complemento, evitando-se a solidão. As mensagens são sempre positivas o que torna tudo muito interessante com apenas uma ressalva para a canção Jeito, ela destoa do álbum um tanto.

A faixa que abre o VIVA é “Eu Nunca Estou Só“, uma pancada que o Barão trouxe com o apoio do rapper BK. O que tem de mais produtivo nesse Blues moderno é justamente esse diálogo interessante do Blues com o Rap, gêneros que tem origens históricas similares. Entretanto, os versos de BK não combinam muito com a canção, parece que ele toma pra si o protagonismo, se torna o eu lírico, coisa comum em parceria com rappers que nunca achei bom nem para eles, nem para as bandas que convidam.

Por Onde Eu For” é uma agitada balada que me remeteu ao Britpop e ao Greend Day dos anos 90, uma das mais legais do álbum. em seguida tem a já citada Jeito que tem uma letra interessante, mas realmente não tem a cara do Barão e diria que não tem a cara nem do Suricato (banda autoral do Rodrigo), pop de mais até para os envolvidos que já beberam até em águas eletrônicas no álbum Puro Êxtase de 1998.

“Tudo por nós 2” é um rockão antigo com belo slide e vocais de Maurício e Rodrigo. Já o lento Blues “Um Dia Após o Outro” traz a marca registrada do Barão que é um solo preciso e bem timbrado de Fernando Magalhães, tão épico quanto o feito para “O Poeta Está Vivo“, hit do álbum Na Calada da Noite de 1990, amado por qualquer bom brasileiro.

A canção com o maior selo Barão de qualidade do disco é a música “Vai Ser Melhor Assim“, onde Rodrigo mostra todo seu talento vocal com vários momentos em que rasga a voz enquanto grita – Cazuza feelings – e que nos versos traz aquele grave e métrica desenvolvida por Frejat conseguindo deixar seu próprio estilo também. Só ela já basta para provar o porque Rodrigo foi a escolha certa como novo frontman para os Barões originais remanescentes.

“Castelos” que é cantada por Maurício Barros é a melhor música do disco. Um blues perfeito, letra totalmente doída, bem pesada e ao mesmo tempo sarcástica no momento que o cara no bar chama Deus para ser sua companhia e fazer a sua sofrência. Uma música que certamente vai fazer muitos se identificarem.

A faixa que finaliza o álbum é mais uma parceria. A cantora Letrux, que é um nome bem quisto no cenário nacional e mundial pelo seu álbum solo Letrux em Noite de Climão que te pôs em décimo lugar na lista da Rolling Stone dos lançamentos nacionais de 2017, traz seu vocal para um dueto junto a Rodrigo em “Pra Não Te Perder” uma balada acústica muito gostosa em que mais uma vez o tema solidão é vencido por dizeres de esperança.

É uma nova banda, assim como aconteceu no processo de tirar a imagem do Cazuza e fazer público e mídia aceitarem Frejat como front man e a mudança sonora do Barão para algo mais pesado com a chegada de Fernando Magalhães, a nova face tendo Rodrigo Suricato nos vocais e na guitarra traz uma conotação mais popular e mais de acordo com o que pede a indústria. Acredito até que já foi aceito e com extrema rapidez. Assim como ocorre a impressão de que tudo é mais dinâmico hoje em dia, mudanças parecem ser digeridas com mais facilidade.

Temos um bom disco de rock na praça que conversa com várias gerações e agradará novos fãs. Diria até que com as temáticas das músicas poderá ajudar muita gente em certos estados clínicos ligados a solidão, tão combatida no decorrer do álbum. Em um Brasil polarizado, em que muitas bandas de rock novas se alinham ao MPB de agora para poder vender, temos um Barão que segue sendo rock e classudo conversando com as novas tendências sem perder sua essência.

Nota final: 10/10

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