Arctic Monkeys: rock, luzes e lágrimas no Rio de Janeiro

Por Roani Rock

Cinco anos depois da última vinda ao Brasil o Arctc Monkeys veio em turnê para divulgar o seu novo álbum Tranquility Base Hotel & Cassino com alguns problemas que não dependiam da banda. Shows feitos em uma quarta-feira a noite em um lugar que não é tão fácil de chegar por conta de trânsito e localização como a Jeunesse Arena e o pensamento da volta em meio a madrugada de um Rio de Janeiro quase utópico da zona norte que possui uma realidade muito cruel e insegura costumam ser brochantes. É certo que quando a performance vem por parte de uma grande banda do cenário internacional um esforço maior é feito, principalmente quando o artista em questão é o principal nome do Rock atual.

O Arctic Monkeys encheu a Jeunesse Arena mostrando porque a mais de dez anos não se trata de qualquer banda. São ousados, no sexto álbum Tranquility Base Hotel & Casino, simplesmente o sucessor do álbum de maior popularidade da banda, o AM, trouxeram algo conceitual aos moldes de Blackstar de David Bowie. O que deixou muitos fãs confusos e com certa desconfiança mediante a nova tour principalmente em função de como um setlist seria montado já que no novo disco – assim como foi com o Humbug, o terceiro da banda – há uma transição de estilo sonoro. A banda soa mais suave, diria até mais erudito e britânica que no som dos anteriores. Todavia, essas incertezas e medos não impediram que os fãs não dessem seu voto de confiança. Não foi sold Out, mas a casa estava cheia.

A descrença com um bom set caiu por terra já nos primeiros riffs de guitarra. Alterando tons e tornando as músicas mais cavernosas – quase stoner, o show ganhou uma cara bruta e ao mesmo tempo psicodélica. Para quem já vinha acompanhando, na divulgação da nova tour, até o momento, os sets ficaram bem melancólicos com mais baladas, tem as dobradinhas entre o AM e o Tranquility, um hit ou outro do Humbug e do Suck it and See mais os mega sucessos Brainstorm e a “Satisfaction” dos Macacos, I Bet You Good on the Dance Floor que não podem faltar de jeito ou maneira em nenhum dos shows.

Na apresentação de ontem do Rio algumas surpresas aconteceram para a alegria dos fãs mais antigos. Quem viu a banda no palco que simula o formato da capa do Tranquility Base Hotel & Cassino teve a maior delas que foi a execução de Dancing Shoes, do primeiro disco whatever people say i am that’s what i’m not de 2006, sem dúvida uma das mais queridas da fã base e que tem mais a ver com a América Latina, por onde a turnê está passando agora.

O setlist do Rio foi muito bem montado com o que mais se aprecia no rock destes britânicos. Já que as músicas do Tranquility Base são, coloquemos como mais paradas, os Arctic Monkeys colocaram algo mais pesado ou que atraía mais o público para compensar a introspecção das músicas mais recentes. Não cansando o público e sim deixando ele ligado. Foi um set bem equilibrado. Estar em um show dessa banda de Sheffield é saber que está presenciando uma onda.

Diferente das outras vindas, quem esteve no Jeunesse conferiu um Alex Turner se demonstrando muito a vontade e com uma presença de palco fora da habitual. Dialogou bastante com o público a quem ele elogiava de hora em hora. Quando fala com a galera a impressão é que Alex está cantarolando e não falando. É compreensível todo o frisson e as atenções se voltarem mais para ele enquanto faz um solo de guitarra ou de sintetizador do que para o restante da banda que no último ano cresceu com músicos adicionais.

Por falar nos outros integrantes, assistindo ao show pelo setor 3 fica perceptível a questão da banda olhar pouco para o público e tocar mais um para o outro. Não é que isso seja negativo, mas dentre os membros além do Alex o único que dá para se ter uma identificação de músico com fã vem por parte do baterista Matt Helders. Além do destaque em alguns solos de bateria o cara desenvolve mais papéis como fazer os agudos nos backing vocals das canções.

Os pontos altos do espetáculo certamente vieram pela execução dos hits mais carismáticos e pesados da banda como Crying Lighting do álbum Humbug de 2009, Teddy Picker presente no segundo Favourite Worst Nightmare. Sobrou admiração para as luzes em Cornerstone, One Point Perspective que levou alguns fãs as lagrimas pelo belo vocal de Alex assim como na bucólica 505.

Four Out Five certamente a “música de trabalho” do Tranquility Base e o momento AM no fim do show com Arabella e R’U Mine? apareceram em instantes chave. Despediram-se do palco em clima de comoção no Rio. Quem vai estar no lolapalooza pelo show deles não irá se arrepender, para os cariocas só resta o pedido de volta com mais side shows.

Houve uma identificação do público com o novo álbum, a perceptível predileção pelas música do AM de 2013, euforia e nostalgia por músicas dos dois primeiros álbuns e o momento de ir renovar o tanque com cerveja em músicas obscuras como Pretty Visitours e Library Pictures que poderiam ter dado lugar para outras mais marcantes como When the Sun Goes Down, The View From the Afternoon, Riot Vain ou até Mardy Bum. Que afinal de contas foram canções que formaram a primeira leva de fãs.

Outro questionamento que fica é o sumiço de Fluorescent Adolescent. A música mais famosa deles no Brasil não estar presente no set foi chocante. Do me a Favour que também é um grande hit dos primeiros anos da banda foi gritada pelo público de uma ponta a outra, mas o pedido foi ignorado.

Para finalizar, a última frase de Brainstorm fala de um sentimento unanime. Para os macacos de Sheffield fica “Well, see you later, innovators“!

Confira o setlist do Rio:

  1. Do I Wanna Know?
  2. Brianstorm
  3. Snap Out of It
  4. Don’t Sit Down ‘Cause I’ve Moved Your Chair
  5. One Point Perspective
  6. I Bet You Look Good on the Dancefloor
  7. Library Pictures
  8. Knee Socks
  9. The Ultracheese
  10. Teddy Picker
  11. Dancing Shoes
  12. Why’d You Only Call Me When You’re High?
  13. Cornerstone
  14. 505
  15. Tranquility Base Hotel + Casino
  16. Crying Lightning
  17. Pretty Visitors
  18. Four Out of Five
  19. Start Treatment
  20. Arabelle
  21. R U Mine?

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