Review: The Umbrella Academy

por Roani Rock


foto/exibição: Papel Pop

Acabei de assistir ao último ep da maravilhosa série The Umbrella Academy e tenho que falar sobre.Eu já tinha escutado falar que Gerard Way, conhecido por ser vocalista da banda My Chemical Romance, tinha uma ligação com quadrinhos e até largado o estrelato dos palcos para investir em suas histórias. Sua banda sempre teve essa coisa teatral e principalmente no último disco Danger Days: The True Lives of the Fabulous Killjoys , bem cartunesca. O álbum de maior sucesso da banda, The Black Parade, de 2006, trouxe em clipes dos hits algo hiper-realistas, preto e branco em uma monocromia semelhante ao gótico do expressionismo alemão, tipo de confecção cinematográfica cheia de drama… tudo isso é bem perceptível, mas nunca havia me ligado tanto, até agora.

O que quero dizer é que Gerard Way, de todo modo, é um artista. Ele soube expressar isso em sua HQ que claramente não era algo tão popular aqui, entretanto, reconhecida lá fora Publicada pela Dark Horse, a série ganhou o Eisner Award, o Oscar dos quadrinhos, de melhor minissérie em 2008. Tal reconhecimento não ia deixar de chamar a atenção da imprevisível Netflix que fez a hq se tornar uma série rica de informação e personagens que fatalmente serão mais cultuados a partir de agora em termos não só comerciais mais de devoção tanto quanto os icônicos da Marvel e DC.

“Estar em uma banda é como ter uma família disfuncional, com todas essas personalidades distintas e grandes, não apenas as pessoas da sua própria banda, mas as pessoas que você conhece na estrada, na equipe. Então há um pouco de mim em todos os personagens, tem pedaços de cada um dos integrantes nos personagens, e as diferentes funções que eles tinham na banda, e como estas funções se alternam às vezes. Nós estávamos em uma panela de pressão de notoriedade, e os personagens também passam por isso, na HQ e na série”. Disse Gerard a Rolling Stone em entrevista fazendo referência aos companheiros de banda (Frank Iero, Mikey Way, Ray Toro) e como eles inspiraram os personagens do Umbrella Academy.

Ao meu ver, após décadas tendo os mesmos heróis das empresas renomadas americanas de hq figurando por dez longos anos a industria cinematográfica com seus blockbusters enfim saturou e ficou datado. Já sabemos o que esperar e a expectativa é só em saber quando tal arco será abordado, se o Homem – Aranha vai usar um novo uniforme clássico, se o Homem de Ferro vai usar um novo traje de última geração – só com um tracinho de vermelho e dourado diferente do outro – para combater o Thanos ou outro vilão já conhecido. E tudo bem! Boas histórias para nossos heróis preferidos é sempre algo bem vindo. Mas a modernidade clama por novidade e com The Umbrella Academy ela veio.

A HQ que recebe desenhos bem cartunescos e despretensiosos do brasileiro Gabriel Bá ficou restrita apenas ao público que é assiduamente leitor de HQ, não era muito divulgada em termos de blogs, sites ou meios de comunicação, não entrou no mainstream popular mesmo sendo escrita por um vocalista de uma banda famosa. O que faz a série não ser – por mais que tenha o selo Netflix – tão atrativa se a pessoa ler a sinopse ou ver o trailer. O que termina por ser uma faca de dois gumes, as pessoas não estão criando a já falada expectativa mas ao mesmo tempo não tem uma motivação tão grande assim para explorar o desconhecido.

Bom, confesso que o primeiro contato que tive foi com a série e não li as hqs (por enquanto) então podemos pular e não prolongar mais com a introdução e ir direto ao ponto, Assista a série! Ela vai colocar sua cabeça pra trabalhar e te fazer questionar muita coisa já nas primeiras cenas. Em um dia qualquer, “…sem nenhum aviso…”, um evento fantástico acontece: o nascimento de quarenta e três extraordinárias crianças de “…mulheres, na sua maioria solteiras, que não exibiam sinais de gravidez, em lugares aleatórios do mundo”. Destes bebês, sete são adotadas pelo misterioso Sir Reginald HargreevesO Monóculo, para a formação da “Academia Guarda Chuva” (The Umbrella Academy), tendo como objetivo, um dia, salvar o mundo de um apocalipse.

É difícil analisar como Gerard Way chegou nessa construção e principalmente do que vem depois. Os componentes da academia são identificados por números colocados pelo Sir Hargreves. A acadêmia, depois de alguns anos se desfaz e o que traz o retorno após 13 anos é a morte do Monóculo. Todo o desenvolvimento das crianças para a vida adulta e situações vividas no seguir adiante, é que traz o algo a mais nos personagens. Não tem um que não seja interessante, até os que não pertencem ao núcleo central da trama, mas que ao decorrer ganham seu protagonismo, com o perdão do uso da palavra, excita.

É legal também o fato que os personagens da série não precisam que os atores sejam similares ao da hq em termos de aparência ou tom de pele. Dentre os protagonistas o maior destaque vai para Klaus, o Número 4, um ser perturbado que tem como superpoder invocar mortos e falar com eles em um primeiro momento. A maior questão é que seus poderes lhe causam medo e repulsa culminando em fazer com que ele se torne um adicto de drogas. Na série o personagem é interpretado por Robert Sheehan. O Número 6 /Ben/Horror aparece morto no tempo em que a história é abordada e só temos contato com ele graças a Klaus com ele se tornando o conselheiro espiritual do número 4.

Outra figura que vale muito a atenção é o Número 5, personagem interessante por ter a habilidade de saltar no tempo e assim poder também viajar para épocas distintas. Se isso já o torna chamativo, o fato dele ter tentado ir para o futuro, fica preso durante 50 anos, se torna um homem velho de mais de 60, depois disso conseguir enfim voltar para o tempo quando a história é contada e por conta de uma anomalia temporal ficar preso em seu corpo aos 14 anos com a cabeça dos 60 anos vividos enquanto seus irmão já possuíam 30 anos é dfícil até de categorizar em palavras. Na série o personagem é interpretado por Aidan Gallagher. Ele se torna o anunciador da trama que o espectador ira acompanhar em dez episódios.

Spaceboy ou Número 1 (Tom Hopper), Diego a.k.a Nº2 (David Castañeda) e Allison/Número 3 (Emmy Raver-Lampman) têm seu prestígio principalmente se levar em conta como são contadas suas vidas paralelas ao Umbrella Academy. o Nº1 sendo mandado para a Lua, Nº2 sendo o vigilante da cidade, a Nº3 sendo uma atriz divorciada com saudade da filha. São os que conduzem a parte mais dramática da trama enquanto os dois outros citados trazem algo mais cômico e atrativo. A partir do andamento dos acontecimentos todos mostram doses de heroísmo e muitas tomadas de decisões difíceis que deixa o espectador os idolatrando ou sentindo uma ponta de desaprovação misturada com raiva.

A trilha sonora é colossal. Muito rock, é claro, com Noel Gallagher, The Kinks, The Turtles e muita coisa boa. Mas o que fica em evidência é a onipresença da música clássica, principalmente para nos envolvermos com a misteriosa personagem Vanya a.k.a Nº7 interpretada pelo possível nome mais conhecido do elenco Ellen Page. A composição desse personagem nos faz ter vislumbres de Watchman, por sinal, The Umbrella Academy parece possuir muita influência da obra de Alan Moore.

Cha-Cha e Hazel

O que deixa claro que é uma obra original mesmo são os antagonistas Hazel e Cha-Cha que no decorrer dos episódios sofrem uma evolução quanto a motivações e transformações de caráter. O enredo é gritante e foge da obviedade principalmente nos três últimos episódios em que a trama da uma girada de 360 graus. É uma boa pedida maratonar a série e passar esse tempo cultuando personagens e histórias tão fantásticas.

4 comentários sobre “Review: The Umbrella Academy

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